Uma das principais marcas da trajetória de Célio Garcia foi a interseção que estabeleceu entre a psicanálise e a política, na qual a questão social e o senso de justiça se destacam como instrumentos de intervenção no que ele denominou de “a dura realidade brasileira”.
Seria, talvez, mais confortável para um psicanalista com uma sólida formação como a dele se ater ao mundo das ideias, ao universo de disseminação do conhecimento acadêmico e ao atendimento clínico.
Mas essa inquietude social – e portanto política – fez com que Célio alçasse voos mais altos. Em sua autobiografia, ele estabeleceu:
Servi-me da psicanálise como instrumento no trabalho de clínica no consultório, mas também em atividades práticas de psicanálise aplicada. Tanto assim que minhas contribuições no campo do atendimento ao jovem infrator se deixam marcar pela psicanálise, pensada politicamente.
Nesse sentido, Célio rompe as barreiras do consultório e das salas de aula, estabelecendo diversas conexões com o mundo real, no contexto dos conflitos políticos da sociedade, e desenvolve propostas concretas que visam à inserção social das camadas mais vulneráveis. Como foi o caso da proposta da Clínica da Carência, englobando personagens como o jovem infrator, Estamira, a catadora de lixo, o construtor de barraco, entre outros.
Paralelamente, ele desenvolve o conceito da Clínica do Social, que deve “aliar a atividade, o interesse e a atenção da clínica à subjetividade de cada um, articulando esses procedimentos com um programa de ação política como prática no dia a dia do cidadão”.
Essa concepção está plenamente apresentada por ele em seu livro Clínica do Social (editora Projeto).