Entre os personagens estudados e utilizados por Célio em suas aulas e palestras, destacava-se a figura de Estamira, uma senhora catadora de lixo com distúrbios mentais que viveu em um lixão na cidade de Duque de Caxias (RJ).
Em momentos de acessos nervosos, ela vocifera contra a alienação dos seres humanos pela religião, pelos remédios e contra uma “sociedade de controle”. Em suas manifestações alucinadas, ela se dizia “reveladora da verdade”, demonstrando grande coerência em suas análises. Sua trajetória deu origem ao documentário “Estamira”, de Marcos Prado.
Entre as reflexões que produziu sobre ela, Célio escreveu:
Estamira é portadora de sofrimento mental. Psicótica, ela foi atendida pelo serviço de saúde mental. Medicada, ela está sob efeito de psicofármacos. Mas isso não diz tudo. Todos esses procedimentos não esgotam a questão suscitada por Estamira. Há algo mais. Estamira faz sua trajetória, ela inventa seu território e, por onde passa, ela leva seu sofrimento mental, que dura. Ele tem uma duração, a duração da vida, mas não é crônico.
Estamira, com quem fomos aprender os primeiros passos da presente reflexão, era catadora de lixo no aterro sanitário, de onde tirava seu sustento, onde encontrava seus companheiros e, com eles, praticava sua filosofia. Vamos refletir sobre essa face de Estamira.
Alguns anos depois do lançamento do documentário, realizado em 2004, Célio publicou o livro Estamira, novas formas de existência (por uma Clínica da Carência), como parte da Coleção Cínica do Social, da editora Ophicina de Arte & Prosa, em 2011.
Célio parte da história de vida da personagem e desenvolve uma ampla reflexão sobre questões relacionadas ao que ele definiu como Clínica da Carência, com aspectos ligados à saúde da família, à política, ao fazer poético, à geografia humana, à filosofia dos objetos, à fama, entre outros.
Ele faz uma análise do documentário de Marcos Prado e ainda oferece ao leitor uma interessante visão sobre “a psicanálise e o cinema”. A obra, inclusive, é fruto de sua participação no Quarto Festival de Cinema de Salvador, em julho de 2010.
Confira o documentário brasileiro dirigido por Marcos Prado e produzido por José Padilha, lançado em 2005.