Uma pequena preciosidade foi encontrada no acervo de documentos de Célio, com data de 1972. Quem quiser saber um pouco mais sobre rotina de trabalho, produção acadêmica e algumas ideias do psicanalista naquele início dos anos 1970 não pode deixar de ler essa entrevista.
Ainda não existia e-mail, mas ela foi feita a distância por alunos da Escola de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De acordo com anotações da época, escritas à mão acima do texto, a entrevista serviu como referência para a montagem de um discurso de formatura dos estudantes à época.
Vale a pena conferir a qualidade das perguntas que, aparentemente despretensiosas, abriu um grande leque para relevantes, ainda que breves, reflexões do entrevistado.
Tenho ido de Freud a Marx, e de Marx a Freud sem grandes distorções
Logo na primeira resposta, Célio faz revelações muito interessantes:
Meu trabalho tem sido dividido entre a psicanálise, o magistério e as intervenções no nível de instituições. À primeira vista para o observador externo, e mesmo para mim em certos momentos de confusão, pode parecer um conjunto de atividades dispersas ou por demais diversificadas. No entanto, chego a pensar que não: tenho ido de Freud a Marx, e de Marx a Freud sem grandes distorções. Por caminhos tortuosos, é bem verdade.
E a reflexão final dele também impressiona, pela ferinidade e atualidade das palavras:
Pensando em algumas pesquisas que são feitas no Brasil atualmente, diria que, a rigor, o Brasil não precisa saber como o rato aprende a andar no labirinto. Precisa saber, e urgentemente, como uma população analfabeta, verminótica e subnutrida se organiza e faz progredir o país.
Veja as perguntas enviadas, que dão a dimensão:
- Quais as atividades que considera fundamentais em seu campo de trabalho?
- Quais destas conseguiram alcançar maior precisão técnica?
- Quais julga terem os maiores efeitos sociais e por quê?
- Quais as condições de trabalho em seu campo e as principais dificuldades?
- Que transformações setoriais ou globais prevê a curto e médio prazo?
- O que acha que poderia e deveria ser feito em seu campo no futuro?
- Como julga seu campo de trabalho dentro e fora da psicologia?
- Que tipo de atividades ou especialização recomendaria aos atuais formandos, tendo em vista as características de sua área e as exigências do mundo atual?
Confira a íntegra das perguntas enviadas (escritas à mão) e das respostas datilografadas:
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