Nos anos 1970, Célio foi responsável pela vinda do filósofo Michel Foucault à UFMG

Nos anos 1970, o filósofo francês Michel Foucault já era considerado uma das maiores personalidades da intelectualidade europeia. Entre 1970 e 1984, foi professor da cátedra História dos Sistemas do Pensamento, no célebre Collège de France, em Paris.

Em maio de 1973, aos 47 anos, ele veio ao Brasil para uma conferência no Rio de Janeiro e, depois, seguiu para Belo Horizonte para também cumprir uma agenda de palestras e visitas a hospitais psiquiátricos.

De acordo com o filósofo e professor José de Anchieta Correa, ex-coordenador do programa de pós-graduação em Filosofia da UFMG, “Célio, através de seus inúmeros contatos com personalidades do mundo acadêmico francês, teve grande importância para concretizar a vinda para o programa de mestrado da universidade de eminentes professores de literatura, psicanalistas e especialistas do pensamento de Freud e Lacan. A vinda do filósofo Michel Foucault teve grande repercussão no mestrado e no Departamento de Filosofia” (trecho publicado no livro “Tributo a Célio”, da editora Topológica).

Nos eventos acadêmicos, Anchieta ficou responsável pela tradução de grande parte das aulas e dos seminários conduzidos por Foucault. E, juntamente com Célio, traduziram também do português para o francês as perguntas e questões formuladas nos encontros pelos professores, alunos e demais participantes.

O testemunho de Célio sob a estada

Entre os escritos de Célio, há um texto em que ele narra a célebre passagem de Foucault por BH. Nele, cita o apoio e a participação de professores universitários, como Anchieta e Moacir Laterza, entre outros.

O texto, sem registro de data, ao que tudo indica, foi lido por Célio em um evento posteriormente realizado na PUC Minas. A primeira frase, muito curta e com apenas seis palavras, indica o significado e o valor do acontecimento. Célio escreveu na primeira linha: “Michel Foucault esteve em Belo Horizonte”.

Mais adiante, explicou: “Sobre a permanência de Foucault em Belo Horizonte, quero trazer meu testemunho”. Leia abaixo a versão final do texto, da forma como saiu da impressora matricial da época. E confira também uma versão anterior, na qual Célio faz algumas observações manuscritas, para inserção no texto final.

Observe, inclusive, a última frase, bem no estilo de “abrir janelas” do autor…

Michel-Foucault-no-Brasil

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Tomando cachaça com Foucault no odre

Em seu livro “Holocauto Brasileiro” (editora Geração), a premiada jornalista Daniela Arbex narra a vinda de Foucault a Belo Horizonte e as palestras que proferiu para profissionais da saúde. Ao final de uma delas, ele foi convidado pelo psiquiatra Ronaldo Simões para conhecer as cidades históricas de Minas.

E ela destaca um episódio:

Convite aceito, Foucault e Daniel Defert, seu companheiro por mais de 20 anos, acompanharam, na viagem de cinco dias, Simões e o professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Célio Garcia – um dos que atuaram como tradutor do filósofo. Eles embarcaram para Congonhas na caminhonete rural branca disponibilizada pela Secretaria de Saúde do Estado, veículo considerado a versão familiar do Jeep. Depois, seguiram para Tiradentes, São João del-Rei, Mariana e Ouro Preto. Na bagagem, Célio levou um odre, uma espécie de cantil feito de pele de animal que existe desde os tempos do Cristianismo. No século IV, o recipiente era usado para carregar a fermentação da uva. Mas, na viagem pelas Gerais, havia cachaça, e das boas, no lugar do vinho: boisson typique du Brésil.

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